A esquizofrenia é um transtorno mental que se caracteriza pela desconexão com a realidade, podendo se manifestar por meio de distúrbios de percepção, do pensamento, da linguagem, da autopercepção e do comportamento.
Pessoas com esse distúrbio podem ser acometidas por alucinações e ideias delirantes, sendo recorrente os relatos de que ouvem vozes que não existem ou têm uma crença persistente sem fundamento em bases reais.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em torno de 1,6 milhão de brasileiros sofriam da perturbação mental, em 2021. Em relação à perda de qualidade de vida entre indivíduos de 15 a 44 anos de idade, a esquizofrenia ocupa o terceiro lugar no ranking da Organização Mundial da Saúde (OMS) que engloba todas as doenças.
Sintomas da esquizofrenia
A manifestação dos sintomas pode ocorrer subitamente, em intervalo de alguns dias, ou de forma gradativa, estendendo-se por anos. Inicialmente, os sinais podem ser leves, incluindo certa desconfiança não fundamentada, desorganização ou um afastamento das pessoas e dos acontecimentos.
Segundo o Manual MSD, a psicose é um dos principais sintomas da esquizofrenia a afetarem o indivíduo em momento de crise, também conhecido como surto psicótico, marcado por delírio e alucinação.
O delírio é a perda da capacidade de apreender a realidade, levando a uma visão distorcida dos acontecimentos. Entre as manifestações mais recorrentes está o delírio persecutório, em que a pessoa acredita estar sendo seguida ou observada, e que algo estaria sendo tramado contra ela.
As alucinações, por sua vez, mais comumente surgem na forma de vozes que não existem, ou ainda zumbidos, chiados, assobios ou ruídos em geral. Além dessas alucinações auditivas, em alguns casos podem ocorrer também alucinações visuais, em que a pessoa percebe objetos, seres ou imagens que não existem de fato.
O indivíduo pode também apresentar um discurso desorganizado, seja com frases que não fazem sentido ou mesmo com palavras embaralhadas. Há, ainda, pessoas que têm um prejuízo da função cognitiva, apresentando dificuldade de prestar atenção, de elaborar raciocínios e resolver problemas.
Em relação ao comportamento, a pessoa com esquizofrenia pode igualmente mostrar desorganização, indo da total apatia a uma grande agitação. Dessa forma, tem suas tarefas cotidianas e vida social prejudicadas, uma vez que essa agitação pode até mesmo envolver gritar ou proferir insultos em público.
A catatonia pode ocorrer no mesmo período em que a agitação. O comportamento catatônico envolve postura estática, falta de movimentos e expressões faciais, bem como mutismo.
Fatores de risco e causas da esquizofrenia
Sendo uma doença complexa, a causa da esquizofrenia ainda não é conhecida, havendo pesquisas que indicam alguns fatores de risco para que o transtorno se instale.
O histórico familiar é um dos indicadores de predisposição genética ao desenvolvimento da condição. De acordo com o Manual MSD, pessoas que tenham pai, mãe ou irmão diagnosticado com o transtorno têm 10% de chance de também desenvolvê-lo – enquanto na população geral esse risco é de 1%.
Além dos fatores de risco genéticos, a combinação com fatores ambientais contribui para maiores chances de se desenvolver esquizofrenia ao longo da vida.
Entre os aspectos ambientais estão as infecções antes do nascimento (pré-natais); a deficiência nutricional durante a gestação; idade avançada dos pais; incompatibilidade sanguínea (quando a mãe tem o fator Rh negativo e o filho, positivo); falta de oxigênio no momento do parto.
Um estudo realizado em 2010, publicado na revista Nature pelo neurocientista holandês Jim van Os, reforça que ocorrências com potencial de afetar o desenvolvimento e as características do cérebro, como infecções ou o uso de cannabis ou outras substâncias psicoativas, em especial durante a adolescência, também aparecem como associadas ao maior risco de esquizofrenia.
Uma pesquisa divulgada em janeiro de 2023, conduzida por pesquisadores da Unicamp, UFRJ e Instituto D’Or, identificou que a esquizofrenia pode estar associada a alterações na vascularização de células neurais. Em pacientes que sofrem da doença, os astrócitos – células fundamentais para a manutenção dos neurônios – podem levar à formação de vasos mais finos, embora mais numerosos, afetando a irrigação de determinadas regiões do cérebro.
Há, ainda, aspectos psicossociais que adentram na equação, como estresse materno durante a gestação (pré-natal); intensa exposição a situações estressantes ou traumáticas, como histórico de negligência familiar ou abuso.
Como diagnosticar a esquizofrenia?
O diagnóstico da esquizofrenia deve ser feito pelo psiquiatra, segundo critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5). É possível que alguns sintomas sejam identificados também pelo neurologista, que deve encaminhar o paciente para avaliação psiquiátrica e confirmação do diagnóstico.
A observação dos sintomas e a avaliação de acordo com os critérios deve ser combinada a exames de laboratório e de imagem para descartar outras questões de saúde, como doenças neurológicas ou outros quadros que desencadeiem sintomas em comum.
Segundo o Manual MSD, é necessário que a pessoa apresente dois ou mais dos sintomas com duração de pelo menos seis meses.
Além disso, as relações e a vivência em âmbito profissional, acadêmico ou social são negativamente afetadas, sendo importante que o médico verifique com familiares e pessoas próximas quando os sinais possivelmente tiveram início.
Tratamento da esquizofrenia
Quanto mais cedo forem identificados os sintomas do transtorno, melhores são os prognósticos para tratamento da esquizofrenia. A principal medida é o uso contínuo de medicamentos antipsicóticos para a amenização dos sintomas, reduzindo as chances de a pessoa sofrer uma nova crise.
A depender da gravidade dos sintomas, havendo uma crise muito intensa, pode ser necessária a internação do paciente até sua estabilização.
A maior parte dos indivíduos é capaz de ter uma melhora de longo prazo ou com recaídas intervaladas, especialmente quando o tratamento medicamentoso é associado à psicoterapia. Contudo, cerca de um terço dos pacientes, de acordo com o Manual MSD, podem se tornar permanentemente incapacitados.
O tratamento pode incluir também a terapia ocupacional, estimulando a criatividade do indivíduo e auxiliando no reestabelecimento da organização do comportamento. Familiares de pessoas que sofrem com a esquizofrenia também podem se beneficiar de grupos de apoio e terapia familiar.
Referências
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