Gastrite e úlcera são duas condições que atingem o sistema digestivo.
Na gastrite, geralmente, há apenas inflamação da mucosa que reveste o estômago. A gastrite tanto pode ser aguda ou crônica e pode evoluir para uma úlcera.
No caso da úlcera, temos uma ferida no local afetado ou seja o rompimento do revestimento do estômago. O termo usado pelos médicos e profissionais de saúde é úlcera péptica.
A úlcera pode estar localizada no estômago ou no duodeno, primeira parte do intestino delgado, localizada após o estômago. Também pode acometer no esôfago, tubo que conecta a garganta ao estômago. Já a gastrite se restringe ao estômago.
A gravidade da úlcera pode variar de acordo com o tamanho e a profundidade. Elas podem atingir, por exemplo, os vasos sanguíneos e causar hemorragias.
Ou ainda atravessar a parede e causar uma perfuração.
São duas complicações que requerem atendimento hospitalar imediato.
Uma gastrite crônica do tipo erosiva também pode provocar sangramento.
Causas
Um desequilíbrio entre os mecanismo de proteção da mucosa gástrica e a agressão ácida, provocada pelo próprio suco digestivo, constituído por ácido e enzimas, estão na origem da inflamação que gera gastrite e úlcera. Esta situação, maioritariamente, decorrem por duas causas:
- Bactéria Helicobacter. pylori
- Antiinflamatórios não esteróides (AINES)
A bactéria H. pylori infecta e habita o estômago. Pode permanecer por muitos anos, e até por toda vida, sem apresentar qualquer sintoma.
O tipo de bactéria, os fatores hereditários e o crescimento oportunista da colônia levam ao aparecimento de gastrite e úlcera relacionados a H.Pylori.
O antiinflamatórios não esteróides (AINES) são medicamentos utilizados para dor, febre e inflamações.
Os AINES têm diversos nomes comerciais como por exemplo aspirina, diclofenaco, ibuprofeno, naproxeno e nimesulida.
Em função do risco elevado de gastrite e úlcera, este tipo de medicamento não deve ser usado de forma crônica sem acompanhamento médico.
E se necessário, o médico prescreverá conjuntamente um medicamento para reduzir a acidez gástrica.
Tanto a H. pylori quanto os AINES desequilibram a mucosa gástrica, pois inibem fatores de proteção e aumentam a agressão do revestimento pelo próprio ácido produzido no estômago.
Outras causas menos incidentes são doenças que promovem a hipersecreção de ácidos e sucos digestivos do estômago como a Síndrome de Zollinger-Ellison.
Fatores de risco
Há situações que podem aumentar a probabilidade de desenvolver uma gastrite ou uma úlcera, o que chamamos de fatores e risco. Como por exemplo:
Idade avançada
Uso excessivo de anti-inflamatórios
Histórico familiar de úlceras
Tabagismo
Etilismo (alcoolismo)
Hábitos alimentares ruins – favorecem a inflamação, a redução da imunidade, o crescimento bacteriano e irritam a mucosa gástrica
Estresse psicológico – pode aumentar a secreção de ácido gástrico
Uso de outros medicamentos associados aos AINES
Sintomas de gastrite e úlcera
Tanto a gastrite quanto a úlcera podem apresentar sintomas ou ser assintomática.
E neste caso, eles só se manifestam quando surgem complicações. É o caso das úlceras relacionadas ao uso dos antiinflamatórios não esteróides que, muitas vezes, são silenciosas.
Além disso, a úlcera e a gastrite nem sempre se diferenciam pela intensidade dos sintomas.
Quando há sintomas eles podem ser:
Dor epigástrica
Sensação de queimação no estômago
Náuseas
Arrotos constantes
Excesso de gases
Sensação de saciedade precoce
Inchaço abdominal.
Anemia por deficiência de ferro – neste caso por hemorragia quando a lesão atinge os vasos sanguíneos que irrigam a região afetada.
Tipo de dor
Popularmente conhecida como dor na boca do estômago, a dor epigástrica, pode ser leve, moderada ou intensa e ocorrer de uma a três horas após a refeição.
É uma dor que tende a piorar à noite, de madrugada devido a produção de ácidos sem a presença de alimentos.
A dor é do tipo que alivia com medicamentos que reduzem ou neutralizam a acidez ou com alimentos.
Diagnóstico
Somente o médico pode fazer o diagnóstico de uma gastrite ou úlcera.
Para tanto baseia-se na avaliação do paciente, história clínica, queixas e sintomas além dos resultados dos exames que solicita.
Um exame que pode definir o diagnóstico é a endoscopia digestiva alta, pois permite visualizar a mucosa do estômago e duodeno.
Neste exame, pode-se retirar uma amostra do tecido do estômago para análise da presença da H. Pylori.
Porém, vale ressaltar que há outros exames não invasivos que diagnosticam a bactéria como a pesquisa do antígeno fecal, o teste respiratório da ureia e o teste sorológico.
Gastrite e Úlcera: tratamento
O tratamento, seja para gastrite ou úlcera, será indicado pelo médico de acordo com o diagnóstico e dependerá da causa, tipo e gravidade.
O objetivo é eliminar o fator causal, se possível, e recuperar a área afetada.
É feito com medicamentos, porém a alteração no estilo de vida será fundamental. Isso inclui, por exemplo modificar a alimentação e reduzir o estresse.
Dentre os medicamentos prescritos, estão os inibidores da bomba de prótons, que diminuem a secreção gástrica. neste caso, o objetivo é reduzir a agressão ácida, desinflamar e permitir a recuperação ou cicatrização da zona afetada. São exemplos deste tipo de fármaco: omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rebeprazol e esomeprazol.
Contudo, se a causa da gastrite ou da úlcera for a bactéria H-Pylori, o medico pode prescrever uma combinação de antibióticos para erradicação do patógeno.
O que é pior, a gastrite ou a úlcera?
Como visto anteriormente, é muito relativo. A principio, pode-se se pensar que o pior é ter uma úlcera, por se tratar de uma ferida e não apenas de um processo inflamatório. Entretanto, uma úlcera, pode ser curada e não voltar aparecer.
E por outro lado, uma gastrite pode se tornar crônica e até mesmo, ser incurável. Portanto tudo depende do tipo, da causa, da evolução do tratamento, da condição do paciente.
É importante dizer que a gastrite e a úlcera também podem coexistir conjuntamente.
Referências
Fischbach W, Malfertheiner P. Helicobacter Pylori Infection. Dtsch Arztebl Int. 2018 Jun 22;115(25):429-436. doi: 10.3238/arztebl.2018.0429. PMID: 29999489; PMCID: PMC6056709. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29999489/
Acesso em 22/05/2023
Kumar V, Abbas AK, Fausto N, Mitchell RN. Bases Patológicas das Doenças-Robbins & Cotran – Patologia -, 9ª ed., Elsevier/Medicina Nacionais, Rio de Janeiro, 2010. Acesso em 22/05/2023
Kamada T, Satoh K, Itoh T, Ito M, Iwamoto J, Okimoto T, Kanno T, Sugimoto M, Chiba T, Nomura S, Mieda M, Hiraishi H, Yoshino J, Takagi A, Watanabe S, Koike K. Evidence-based clinical practice guidelines for peptic ulcer disease 2020. J Gastroenterol. 2021 Apr;56(4):303-322. doi: 10.1007/s00535-021-01769-0. Epub 2021 Feb 23. PMID: 33620586; PMCID: PMC8005399. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33620586/
Acesso em 22/05/2023