Transtorno bipolar: causas, sintomas e tratamento

Sumário

O transtorno bipolar é uma doença que provoca oscilações significativas no humor.  Tais oscilações  interferem  na vida cotidiana e podem afetar relacionamentos, desempenho de atividades, escolares e trabalho, e ainda causar ideação suicida.  No passado,  denominava-se psicose maníaco-depressiva, por alternar fases de mania (euforia) e depressão. Outras nomes para esta condição são transtorno afetivo bipolar (TAB) ou perturbação afetiva bipolar (PAB).

 

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2019 haviam aproximadamente 140 milhões de pessoas no mundo sofrendo dessa doença. A idade média em que o transtorno se manifesta fica entre os 18 e 25 anos. Entretanto, é possível que os sintomas apareçam até mesmo na infância ou adolescência.

 

As causas da perturbação bipolar não são específicas, havendo um conjunto de fatores que podem contribuir para que a doença apareça. Além da hereditariedade, a ocorrência de eventos traumáticos ou intensamente estressantes pode funcionar como gatilho para episódios de mania ou de depressão.

 

O transtorno bipolar é uma doença que provoca oscilações significativas no humor com episódios de euforia e depressão.
No transtorno bipolar pode ocorrer episódios de euforia e depressão. Foto: Pixabay/Gino Crescoli 

 

Sintomas do transtorno bipolar

O transtorno inicia  com uma fase aguda de sintomas e segue com recaídas e remissões repetidas.

Os sintomas da bipolaridade que mais se destacam pelas variações no humor e também no comportamento são: 

 

Fase de mania ou hipomania

Em momentos de mania, a pessoa pode apresentar grande agitação, excitabilidade e hiperatividade. Irritabilidade e disforia – um sentimento profundo de insatisfação – também podem ocorrer. 

 

Em episódios mais intensificados, é possível que o indivíduo não consiga “funcionar” de modo adequado, seja fisicamente ou cognitivamente.  Neste contexto, observa-se  um comportamento altamente impulsivo que pode envolver gastos exagerados, hipersexualidade, entre outros. 

 

Casos mais graves do transtorno bipolar podem fazer com que a pessoa tenha sintomas psicóticos, com ideias de grandiosidade ou alucinações.

 

É possível que o indivíduo apresente também a chamada hipomania. Trata.se de  uma forma menos intensa de mania que, entretanto, não afeta as capacidades físicas e cognitivas tão profundamente. 

 

Enquanto algumas pessoas demonstram irritabilidade e estresse durante a hipomania, há aquelas que experimentam um aumento da criatividade ou maior animação, por exemplo.

 

Uma pesquisa realizada em 2013 pelo médico e psicoterapeuta Brad Bownins sugere que a hipomania pode ser uma forma de defesa contra a depressão. Isto aconteceria por meio do aumento de atividades, funcionando como um tipo de compensação.

 

Fase depressiva

A fase depressiva também varia de acordo com a gravidade da doença. Normalmente, episódios de depressão fazem com que a pessoa tenha dificuldades em realizar suas atividades do dia a dia. Até mesmo se levantar da cama, torna-se uma tarefa difícil ou hercúlea.

 

O episódio depressivo pode provocar insônia ou excesso de sono, bem como falta ou excesso de apetite, baixa autoestima, fadiga e dificuldades de concentração.

 

Sensações de fracasso, culpa, impotência, perda ou vazio podem se tornar negativas a ponto de despertar pensamentos suicidas.

 

Além da intensidade, o que diferencia essas fases das oscilações de humor que normalmente afetam todas as pessoas é a duração.

 

Duração dos episódios

A duração e frequência dos ciclos variam entre os pacientes.  Episódios de mania podem durar desde horas a dias ou semanas, conforme o tipo de transtorno bipolar.   Já o período depressivo, por sua vez, costuma ser mais longo, podendo durar meses.

Geralmente, há um predominância de mania ou  depressão em cada ciclo.   

 

Tipos de transtorno bipolar

São reconhecidos três tipos de distúrbio bipolar:

Tipo I: Os episódios de mania duram pelo menos sete dias, ou ocorrem de forma extremamente severa. As fases depressivas têm a duração de pelo menos duas semanas. Podem também ocorrer os chamados episódios mistos, em que a pessoa apresenta, ao mesmo tempo, sintomas de ambas as fases.

Tipo II: Os episódios se apresentam de forma menos intensa quando comparados ao transtorno bipolar tipo I. Normalmente, os episódios de euforia são aqueles caracterizados como hipomania.

Ciclotimia ou transtorno ciclotímico: As oscilações ocorrem de forma mais frequente. Os sintomas de hipomania e de depressão não são tão intensos, nem tão prolongados, sendo chamados de ciclos rápidos. 

Outros Transtornos Bipolares – É possível, ainda, que a pessoa não apresente os sintomas de acordo com essas classificações, sendo diagnosticada com um tipo não específico de distúrbio bipolar.

Diagnóstico do transtorno bipolar

O diagnóstico de transtorno bipolar é feito pelo medico psiquiatra.  Além de atentar aos sintomas, o profissional os acompanha para se certificar da ocorrência dos episódios de mania ou hipomania e depressão, bem como de sua frequência e por quanto tempo duram.

 

O psiquiatra deve, ainda, considerar o histórico do indivíduo e pode conversar com familiares para se inteirar do comportamento passado do paciente.

 

Também o histórico familiar de bipolaridade ou outros transtornos mentais pode ser indicativo de o indivíduo ter maiores chances de desenvolver a doença, devido à hereditariedade.

 

Além disso, é importante realizar exames clínicos para avaliar a saúde da pessoa e observar se há outras doenças associadas e  se os sintomas podem estar sendo causados por outras condições como hipertiroidismo ou feocromocitoma ou por uso de estimulantes.

Pode ocorrer, ainda, de a pessoa apresentar o transtorno bipolar juntamente com outros distúrbios psiquiátricos.

 

Como tratar o transtorno bipolar?

A forma mais comum de tratamento do transtorno bipolar envolve medicamentos para estabilização do humor associada à psicoterapia.  Além do lítio, há remédios anticonvulsivantes, prescritos pelo psiquiatra,  que são capazes de reduzir ou controlar as oscilações.

 

 No caso de episódios súbitos e intensos de mania, o tratamento pode ser feito também com antipsicóticos. Os  antidepressivos também podem auxiliar no combate aos episódios de depressão grave, embora seu uso não seja um consenso entre profissionais.

 

Os tipos de medicamentos receitados variam conforme o paciente e é comum haver trocas de remédios e ajustes nas dosagens, em busca da substância com a qual o paciente melhor se adapta. 

 

O transtorno bipolar tem cura?

Não existe cura para a doença. Entretanto pode ser tratada e controlada.  O tratamento deve incluir além da medicação e psicoterapia, alterações no estilo de vida. O uso do álcool deve ser suprimido.  

Ainda que episódios de mania e depressão não cessem completamente ao longo da vida,  a maior parte dos  pacientes conseguem viver  de um modo funcional.

Devidamente tratados podem desfrutar de uma vida longa e produtiva.

Com o tempo e a estabilização do quadro, juntamente à terapia,  a pessoa desenvolve estratégias para lidar melhor com os episódios e sintomas que ainda possam se manifestar.

É importante,  entretanto,  a participação da familia, que também precisará  de apoio  psicoterápico para lidar com a pessoa que tem transtorno bipolar.

 

Referências:

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