Nem todos sabem como reconhecer os sinais leves de autismo. Isto pode fazer com que alguns autistas cheguem à vida adulta sem o devido diagnóstico.
Por isso, as campanhas do mês de conscientização, comemorado em abril, visam estimular a pesquisa e o diagnóstico como forma de melhorar a qualidade de vida de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Nos Estados Unidos, uma pesquisa realizada pelo Centro de Controle de Prevenção e Doenças (CDC) em 2020, apontou que uma em cada 36 crianças, de até oito anos, são autistas no país.
Os números crescem todos os anos. Na edição anterior da mesma pesquisa, realizada a cada dois anos, registrou-se 1 caso para cada 44 meninos e meninas. Enquanto no ano de 2000, para cada 150 crianças havia apenas um caso de autismo.
Na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, pesquisadores estimaram que em 2021, uma em cada 57 crianças britânicas têm autismo.
O que pode estar por trás da maior incidência da condição vai desde a melhora na forma de diagnóstico do autismo, a presença de mais médicos especializados no assunto.
Ainda de acordo com a pesquisa do CDC a cada 5 pessoas com TEA, quatro são homens e uma é mulher. Ou seja, o transtorno pode realmente atingir mais os homens.
Além disso, segundo Letícia Oliveira Faleiros, neuropediatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, a condição pode se manifestar de forma diferente em mulheres, o que levaria a um diagnóstico incorreto ou tardio.
É importante que se diga que o autismo não é uma doença e por isso mesmo não podemos falar em cura para o autismo.
Na nova versão do DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), da Associação Americana de Psiquiatria, todos os diagnósticos de autismo estão dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) sendo classificados em três níveis. O nível um, é o autismo leve; o nível dois, moderado e três é o mais severo.
Causas e os fatores de risco
Segundo o neurologista Sandro Matas, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, a ciência ainda não tem uma resposta comprovada do que pode causar autismo.
“Há diversas hipóteses do que pode causar o TEA, dentre elas, a herança genética seria a que desempenha um papel essencial”, afirma.
Porém, além da genética, há situações que se configuram como fatores de risco ambientais como:
Filhos de pais ou mães que já passaram dos 35 anos de idade no momento da concepção.
Condições que afetam a gravidez como estresse, obesidade, diabetes gestacional e hipertensão arterial e infecções.
Intercorrências no nascimento como prematuridade, baixo peso e sofrimento fetal.
Sinais de autismo que podem passar despercebidos
O neurologista Sandro Matos explica que existem alguns sintomas de autismo que podem não ser lidos como parte do espectro, por exemplo:
Dificuldade de interação social;
Reconhecimento de expressões faciais;
Também dificuldade no entendimento de piadas, sarcasmo, indiretas e sinais de comunicação não verbal.
Outros sintomas associados são:
Hiperatividade
Falta de atenção ou interesse intenso em atividades específicas;
Sensibilidade ao som ou ao toque;
Ansiedade;
Falta de contato visual;
Movimentos repetitivos;
Irritabilidade;
Os especialistas chamam atenção para a importância de notar os sinais e sintomas precoces. Isto porque quanto mais cedo for o diagnóstico, melhor será para trabalhar o desenvolvimento neurológico da criança. Por isso, é importante procurar um especialista tão logo observe alguns sinais de autismo.
O autismo na vida adulta
As pessoas que possuem sinais de autismo mais leves e que não são diagnosticados, muitas vezes aprendem a mascarar as manifestações do transtorno em busca de levar uma vida mais “normal”.
De acordo com a neuropediatra Letícia Faleiros crianças não diagnosticadas pode crescer em conflito, almejando agir como um neurotípico. Ou seja tentam se comportar como uma pessoa com características neurológicas normais. Neste caso, aprendem a mascarar os sintomas.
“Torna-se doloroso para o autista usar essa máscara ao invés de poder trabalhar as questões referentes ao autismo para levar uma vida normal, dentro de quem ele é”, esclarece a neuropediatra, ressaltando a importância dos familiares estarem atentos aos sintomas leves, desde a infância.
A maior conscientização bem como um maior número de neurologistas e psiquiatras especializados no diagnóstico poderá auxiliar na identificação de adultos com estes sintomas.
É importante ressaltar que mesmo tardia, a definição diagnóstica contribui no autoconhecimento destas pessoas, melhorando a qualidade de vida.