O ácido úrico é um produto da degradação das purinas, que são bases nitrogenadas que compõem o DNA e o RNA das celulas. Geralmente, o ácido úrico é liberado no sangue e excretado na urina.
As purinas são sintetizadas no nosso organismo com a finalidade de produzir ácidos nucleicos (DNA e RNA). Além disso, também podem ser ingeridas por meio da alimentação, principalmente quando a dieta é rica em proteínas.
Assim, o ácido úrico é produzido a partir da degradação tanto dos ácidos nucleicos quanto das purinas ingeridas através da dieta.
O ácido úrico em indivíduos saudáveis
Após ser produzido, o ácido úrico ganha a corrente sanguínea. Depois disso, uma parte do ácido úrico é armazenada, enquanto outra parte é excretada pelos glomérulos (nos rins).
A maior parte do que foi excretada pelos glomérulos é reabsorvida pelos túbulos distais (também nos rins) e uma quantidade menor é excretada na urina.
Portanto, em indivíduos saudáveis, não é comum haver quantidade elevada de ácido úrico no sangue.
É importante ressaltar que homens costumam ter ácido úrico mais elevado do que mulheres.
Exame de dosagem de ácido úrico
A dosagem de ácido úrico pode ser feita no sangue ou na urina, sendo no sangue o mais comum.
Para a realização deste exame, recomenda-se jejum de 3-4h.
Como não é comum que indivíduos saudáveis possuam altos níveis de ácido úrico no sangue, a dosagem sérica de ácido úrico pode auxiliar a identificar alguma desordem no funcionamento do organismo.
Ácido úrico elevado: o que pode ser?
Quando as concentrações de ácido úrico no sangue estão muito além dos valores de referência, diz-se que o indivíduo tem hiperuricemia.
A hiperuricemia está associada a várias doenças, como gota, leucemia, glomerulonefrite, eclâmpsia e anemias hemolíticas.
Gota
A gota é uma doença desencadeada, em regra, por defeitos de enzimas que metabolizam as purinas. Isso leva a um aumento nas quantidades de purinas e, consequentemente, também do ácido úrico.
Com a elevação do ácido úrico no sangue, ocorre a cristalização de uratos. Esses cristais se depositam nas articulações, causando dor, inchaço e vermelhidão.
Uma das complicações da gota é a formação de cálculos renais.
Para o diagnóstico, além da anamnese o médico avalia a dosagem sérica de ácido úrico, radiografias e exame de urina.
O tratamento geralmente inclui alopurinol, medicamento que inibe a síntese do ácido úrico no organismo. Além disso, anti-inflamatórios e analgésicos para as crises de dores.
Também é necessário ajustes na alimentação (reduzir consumo de carne vermelha, açúcar, refrigerantes e industrializados, no geral).
Glomerulonefrite
A glomerulonefrite é uma condição em que há inflamação dos glomérulos (nos rins).
Com isso, sua função fica comprometida. Dessa maneira, não há excreção suficiente de ácido úrico na urina, o que pode causar o seu aumento no sangue.
Inclusive, indivíduos como glomerulonefrite que têm ácido úrico elevado no sangue podem vir a desenvolver também a gota.
Por isso, sempre que houver o diagnóstico de gota, é importante investigar se não há outra doença de base, como glomerulonefrite, por exemplo.
Os principais sintomas da glomerulonefrite são: urina com sangue ( escura, cor de ferrugem ou castanha) ou com espuma (por excesso de proteínas), fraqueza, cansaço, edema, aumento de peso e hipertensão.
O diagnóstico é feito por meio de hemograma, exame de urina e exame físico.
O medico indicará o tratamento de acordo com a causa (se bacteriana, com antibióticos). Nos casos mais graves, em que há sério comprometimento da função renal, pode ser necessário fazer hemodiálise e até mesmo transplante de rim.
Anemias Hemolíticas
As anemias hemolíticas são condições em que há destruição dos eritrócitos (hemácias ou glóbulos vermelhos). Com isso, ocorre a degradação da hemoglobina, que são proteínas presentes nos eritrócitos.
Assim, acontece a indução do metabolismo das purinas, levando a um aumento de ácido úrico no sangue.
Os sintomas das anemias hemolíticas são: fadiga, icterícia, dificuldade para respirar, palidez e dor de cabeça.
O diagnóstico se dá, além do exame físico, por exames laboratoriais, como hemograma, lactato desidrogenase, dosagem de bilirrubinas e contagem de reticulócitos.
O tratamento, de maneira geral, inclui corticoides e supressores do sistema imunológico como prednisolona, decadron, afopic, acetato de dexametasona.
Em alguns casos, é necessário a retirada do baço – esplenectomia.
Leucemia
A leucemia é um tipo de câncer que acomete a formação dos leucócitos ou glóbulos brancos (as células de defesa do nosso organismo).
Em alguns casos, leva à produção excessiva dessas células.
Por conta disso, há uma intensificação no metabolismo dos ácidos nucleicos e, consequentemente das purinas, levando à elevação sérica do ácido úrico.
Pacientes com leucemia podem apresentar sintomas variados.
Contudo, um dos mais comuns e marcantes é a imunidade baixa, deixando o indivíduo suscetível à infecções.
Além disso, também costumam apresentar ínguas, cansaço, febre e manchas roxas e avermelhadas na pele.
O diagnóstico é complexo e inclui a avaliação de exames como mielograma, hemograma, tomografia, ressonância magnética e testes genéticos.
O tratamento varia de acordo com cada caso, mas as opções terapêuticas são: transplante de medula óssea, radioterapia, quimioterapia e cirurgia.
Cardiopatias
A elevação sérica de ácido úrico em pacientes com doenças cardiovasculares é comum. Contudo, ainda não se sabe se a elevação de ácido úrico no sangue representa apenas um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ou se essa elevação pode causar a doença cardiovascular.
Apesar de esta dinâmica ainda precisar de algumas explicações científicas, é fato que existe alguma relação entre cardiopatias e elevação sérica de ácido úrico.
Portanto, vale a pena ficar atento à elevação dos níveis de ácido úrico. Principalmente se já possui alguma outra doença de base, como hipertensão, por exemplo, que constitui fator de risco para cardiopatias.