edição: Cíntia Oliveira
O câncer de pênis pode ser considerado raro, mas em alguns países em desenvolvimento ainda corresponde a cerca de 10% a 20% dos casos urogenitais em homens. Pode atingir o órgão propriamente dito ou apenas a pele que o recobre.
Esse tumor atinge, em sua maioria, homens a partir dos 50 anos de idade, mas afeta também os jovens, em menor proporção. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de pênis corresponde a 2% dos diagnósticos de câncer masculino no Brasil.
Quais os sintomas do câncer de pênis?
O sinal mais comum ao qual o indivíduo deve se atentar é a presença de uma ferida persistente. Ela costuma aparecer com mais frequência na glande, sendo indolor ou pouco dolorosa – é um mito achar que, por haver uma ferida, o local ficará dolorido assim que ela surgir.
A presença de tumoração (aumento anormal de tecido ou presença de tumor) no pênis, seja na glande (cabeça do pênis), na pele que a recobre ou no corpo do órgão também são sinais de alerta.
Outro possível sintoma de câncer no pênis é o esmegma na glande, uma secreção branca formada por gordura e células da pele que descama.
Apesar de incomum, pode ocorrer também a formação da chamada íngua na virilha, devido ao crescimento dos gânglios inguinais. Esse sintoma está associado a um estágio mais avançado da doença.
Quais os principais fatores de risco?
As causas específicas do câncer de pênis não são conhecidas, mas pesquisas apontam que há uma relação com a infecção pelo papilomavírus humano (HPV).
A falta de higiene adequada está entre os fatores de risco que aparecem principalmente entre pessoas de classes socioeconômicas mais baixas.
Homens com fimose também têm maiores chances de desenvolver o câncer devido à não retração do prepúcio, dificultando a higiene e não permitindo a visualização de alterações na glande. Para evitar essa condição, médicos recomendam que, ao lavar o pênis, o indivíduo retraia o prepúcio manualmente. Além disso, há estudos que associam a cirurgia de circuncisão na infância ou na adolescência a uma menor incidência do câncer de pênis.
Como prevenir o câncer de pênis?
Um estudo de 2020, publicado no Brazilian Journal of Health Review, apontou que a higiene inadequada se relaciona a aproximadamente 85% das ocorrências de lesões pré-cancerígenas. Lavar o órgão com água e sabão é, portanto, a principal recomendação para se prevenir o câncer.
Dessa forma, além de fazer a higiene diariamente, é preciso secar o órgão para que não sofra com a umidade, que pode facilitar infecções. Ao lavar, o homem deve puxar o prepúcio para expor a glande e fazer também sua higienização.
É recomendável, ao urinar, puxar o prepúcio e secar o pênis após terminar. O acúmulo de secreções, incluindo sêmen, pode provocar irritações na pele que, com o tempo, acabam se tornando feridas.
Para se prevenir de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como o HPV, é fundamental utilizar preservativo durante as relações sexuais. Adolescentes entre os 11 e 14 anos de idade devem se vacinar contra o HPV antes de darem início à vida sexual.
Diagnosticando o câncer
Conhecer o próprio corpo é importante, Os homens devem fazer sempre um auto-exame para detectar mudanças como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, verrugas, caroços, erupções cutâneas ou pequenas feridas.
Procurar ajuda profissional tão logo esses sinais apareçam contribui para que tumores malignos sejam diagnosticados precocemente, aumentando as chances de cura.
Para diagnosticar o câncer de pênis, geralmente é realizada uma biópsia incisional, para retirada de um pequeno fragmento do tecido afetado.
Como acontece com outros tipos de câncer, o diagnóstico precoce faz com que o tratamento seja menos agressivo. Em especial no câncer de pênis, as possibilidades de cura são bastante altas quando a descoberta ocorre no início da doença.
Quais as formas de tratamento?
A cirurgia local é o tratamento mais frequente, sendo que em lesões menores a decapagem a laser (ou ablação a laser) pode ser suficiente. Em casos mais avançados, além da remoção cirúrgica do tumor, pode ser necessário o tratamento com quimioterapia e radioterapia.
Se a lesão chegou a atingir outros tecidos do órgão genital, pode ser preciso uma amputação parcial ou mesmo total do pênis. Quando o câncer invasivo se encontra em estado avançado, as chances de cura são consideravelmente reduzidas e cirurgia e radioterapia se tornam tratamentos paliativos.
Por esse motivo, é importante que homens não adiem a procura pelo médico, nem deixem de realizar autoexame regularmente.
Questões sociais envolvendo o câncer de pênis
O diagnóstico tardio do câncer de pênis é considerado um problema de saúde pública no Brasil. A doença atinge a um número maior de indivíduos nos estados das regiões Norte e Nordeste.
Uma preocupação entre estudiosos e profissionais especializados é que homens, em geral, são mais resistentes a procurar assistência médica e a realizar exames regulares para verificação da saúde.
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir de entrevistas com homens de níveis diversos de escolaridade e após revisão de literatura, apontaram que há um fator cultural que afasta homens, em geral, de exercerem o autocuidado.
Isso ocorre porque, além da vergonha em expor o corpo para realizar determinados exames, a associação entre cuidado, prevenção e fraqueza ou vulnerabilidade ainda aparece no imaginário social.
*Francine Oliveira é formada em Letras, mestre e doutora em Estudos Literários. Tradutora, revisora e redatora
*Cíntia Oliveira é jornalista, especializada em conteúdos de saúde e editora do site Muito Mais Saúde