O PMMA, ou polimetilmetacrilato, é uma substância plástica com vários tipos de aplicação.
É muito utilizada para a fabricação de diversos produtos na área de saúde como, por exemplo, em lentes de contato e cimento ortopédico.
A substância foi aprovada pela Anvisa- Agência Brasileira de Vigilância Sanitária, em 2004, na forma de microesferas, semelhante ao gel, para o preenchimento cutâneo de pequenas áreas do corpo.
Vale ressaltar que o PMMA não está aprovado para fins estéticos na União Europeia.
Os produtos a base de PMMA aprovados pela Anvisa e comercializados no Brasil são o Biossimetric, da MTC Medical, e o Línea Safe do Laboratorio Lebon.
De acordo com nota da Anvisa, a aplicação destes produtos está indicada apenas nos seguintes casos:
1.Correção volumétrica facial e corporal de pequenas deformidades cutâneas
2.Casos de lipodistrofia, perda de gordura, decorrentes do uso de antirretrovirais em pacientes com HIV.
Entretanto, na mesma nota pública, a Anvisa esclarece que “o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos. Porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial.
A verdade é que não há estudos sobre o comportamento a longo prazo do produto para preenchimentos em grandes volumes e por via intramuscular.
PMMA: USO INDEVIDO
O problema é que por ser mais barato o PMMA passou a ser utilizado justamente com fins estéticos de forma indiscriminada e PARA AUMENTO DE VOLUME, nos procedimentos de bioplastia.
A técnica, feita com anestesia local, consiste na aplicação de uma injeção de substâncias, neste caso o PMMA, com o objetivo de aumentar o volume da região escolhida.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) não recomendam o uso do PMMA para fins estéticos e emitiram nota pública para esclarecer a população sobre os problemas associados ao uso desta substância.
Os casos de uso indevido de PMMA são antigos e vem sendo alvo de várias alertas das comunidades médicas.
Em 2006, o seu uso indiscriminado mereceu alerta público do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Já em 2010, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) emitiu parecer para alertar sobre o irrestrito e em grandes quantidades do produto.
A entidade reforçou que seu uso era inseguro e imprevisível, com risco de reações crônicas e complicações intratáveis.
Só em 2016, foram mais de 17 mil registros de casos relacionados a complicações do uso dessa substância em todo o Brasil. E ainda um total de 4.432 procedimentos para correção de sequelas de PMMA.
Em 2018, tanto a SBCP quando a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) emitiriam nota de agravo sobre a utilização do produto.
As duas entidades contraindicaram o uso do PMMA em grande quantidade, devido a imprevisibilidade dos resultados. Além disso, solicitaram a reorientação e restrição do seu uso por parte da Anvisa.
ENTENDA OS RISCOS DO PMMA
O risco de complicações associadas ao PMMA aumentam sobremaneira por ser uma substância que o corpo não reabsorve como é o caso por exemplo do ácido hialurônico.
Isto significa dizer que um preenchimento com PMMA é permanente. E quando utilizado em grandes volumes podem causar problemas nos pacientes com complicações que são difíceis de reverter.
A vantagem dos materiais reabsorvíveis está justamente na reversibilidade de resultados indesejados. Isto acontece seja por ação de um “antídoto” ou pela reabsorção do próprio organismo.
Já o PMMA se entranha nos músculos e pode migrar para outras regiões do corpo.
Muitas pessoas, depois de alguns anos, começam a ter processos inflamatórios com inchaço, vermelhidão e dores crônicas.
As complicações decorrentes do uso do PMMA consideradas mais graves são necroses, cegueiras, embolias, falência renal e morte.
Foi o caso da da jornalista e modelo Lygia Fazio, que aplicou grandes concentrações de PMMA e silicone industrial no glúteo.
A modelo começou a enfrentar complicações renais em 2021.
Foi nesta ocasião que os médicos que a tratavam descobriram que o produto injetado no seu corpo era a causa do problema.
As complicações que afetaram os rins da modelo foram decorrentes de nódulos e granulomas que se formaram no local onde o PMMA foi aplicado.
Os granulomas resultaram em um aumento exagerado de cálcio no sangue, uma condição conhecida por hipercalcemia.
E foi justamente a hipercalcemia que danificou os seus glomérulos, área do rins que respondem pela filtração renal.
A modelo seguiu com tratamentos para evitar a perda da função renal e passou por várias cirurgias para retirar a maior parte do PMMA além de enxertos.
Foram sucessivos internamentos e complicações decorrentes como necrose que acabaram por culminar com sua morte, por AVC, em maio de 2023.
PMMA E LIPOASPIRAÇÃO
De acordo com o cirurgião plástico Felipe Tozak, um erro que muitas vítimas do PMMA cometem é tentar fazer a retirada do produto através de lipoaspiração.
Porém, segundo o especialista, a cirurgia para retirar o PMMA tem de ser aberta, pois os granulomas que se formam assemelham-se a pedras endurecidas e não saem com lipoaspiração. Na verdade a lipoaspiração, segundo ele, pode até piorar o caso.
Nas suas redes sociais, o médico alerta para o uso indevido do PMMA com fins estéticos justamente por ser um produto definitivo.
E quando ocorrem complicações há grande sofrimento não só para o paciente, mas para toda a família.
Mesmo com a cirurgia é quase impossível retirar o produto na totalidade pois ele adere aos músculos, pele e ossos.
Em muitos casos os procedimentos cirúrgicos são complexos com risco de afetar músculos, nervos e vasos.
ALERTA: VÍTIMAS DA BIOPLASTIA
No Instagram o perfil @vitimasdabioplastia, tenta alertar as pessoas para o uso do PMMA, do hidrogel e do silicone industrial em procedimentos estéticos.
Diversas vítimas que fizeram remodelação glútea ou facial com PMMA relatam que não sabiam sobre os risco do produto.
E muitas vezes, o profissional assegurou que o seu uso era seguro. Entretanto, essas pessoas viram o sonho de beleza virar pesadelo.
Para quem deseja fazer procedimento, é importante investigar o profissional e se certificar sobre o produto que o profissional vai utilizar na bioplastia.